Se você já assistiu The Boys e Invencível, deve ter percebido algo curioso: apesar de uma ser em live-action e a outra animação, ambas seguem um mesmo caminho brutal, visceral e completamente fora da curva dos heróis convencionais. Mas será que isso é coincidência? Ou essas produções estão querendo nos dizer algo mais profundo sobre o universo dos super-heróis?
Neste artigo, vamos destrinchar as semelhanças, diferenças e o impacto cultural dessas duas obras que, mesmo com estilos distintos, carregam uma mensagem poderosa e crítica à sociedade que aplaude tudo que brilha.
Heróis ou vilões disfarçados?

Uma coisa é certa: tanto em The Boys quanto em Invencível, os heróis estão longe de serem perfeitos. Na verdade, são quase o oposto disso. E isso já quebra a expectativa do público logo de cara.
Enquanto em The Boys temos um Homelander que, por trás do sorriso forçado, esconde um tirano desequilibrado, em Invencível, Omni-Man começa como o pai protetor e termina como o maior pesadelo da humanidade.
Mas por que isso choca tanto?
Simples. A gente cresceu acreditando que heróis salvam o mundo. Aqui, eles destruem – e sem piscar.
Crítica social em forma de soco na cara
As duas séries não estão só contando histórias violentas por capricho. Há uma crítica social embutida em cada diálogo ácido, cada luta sangrenta e cada decisão moralmente duvidosa.
Em The Boys, o foco é a comercialização da imagem dos super-heróis. A Vought International, empresa que controla os Supers, é uma clara crítica à manipulação de mídia, política e ao culto de celebridades. Tudo é vendável, até mesmo o que deveria ser um símbolo de esperança.
Já Invencível vai mais fundo na ideia de domínio alienígena, mas também reflete sobre a relação pai e filho, a pressão familiar, e o dilema entre dever e liberdade. Ou seja, por trás da pancadaria animada, há um drama humano real que ecoa na vida de muitos jovens.
A estética: sangue, tripas e muita coragem
Não dá pra falar dessas séries sem citar a violência gráfica. Mas ela está lá por um motivo: causar impacto. Não é violência gratuita, é para nos tirar da zona de conforto.
- Em The Boys, a carnificina é realista, suja, e desconfortável.
- Em Invencível, o estilo de desenho clássico contrasta com cenas de extrema brutalidade, o que torna tudo ainda mais chocante.
Isso cria um efeito quase hipnótico: você quer desviar o olhar, mas não consegue.
Personagens complexos e imprevisíveis

Tanto Homelander quanto Omni-Man são anti-heróis complexos. Eles não são vilões unidimensionais. Pelo contrário, são bem construídos, com motivações profundas, traumas e até momentos de dúvida.
E o mais interessante é como isso se reflete nos outros personagens:
- Butcher, em The Boys, é um justiceiro movido por ódio pessoal, mas que, de certa forma, também representa a voz da razão num mundo onde os poderosos fazem o que querem.
- Mark, o Invencível, é o típico adolescente que começa a descobrir que o mundo não é tão preto no branco quanto pensava.
Essas narrativas constroem um universo onde o espectador precisa questionar o próprio senso de certo e errado.
Temas universais com roupagem moderna
Apesar de toda a ficção, ambas as séries abordam temas que são muito reais:
- Corrupção institucional
- Manipulação da mídia
- Abusos de poder
- Relações familiares conturbadas
- Expectativas sociais sufocantes
Esses temas ressoam com qualquer pessoa que já se sentiu impotente diante de algo maior. E talvez esse seja o grande trunfo dessas obras: mostrar que até os mais poderosos podem ser os maiores monstros.
Humor ácido e ironia inteligente
Outro ponto em comum entre as séries é o humor sarcástico. Em vez de piadas bobas, temos tiradas inteligentes, sátiras políticas e muitas referências à cultura pop.
Isso torna o roteiro mais dinâmico, mais próximo do público jovem e mais provocador. Você ri, mas depois percebe que riu de algo que, no fundo, é bastante sombrio.
Representatividade e diversidade (com críticas também)
Ambas as séries trazem uma tentativa de representar minorias, embora com abordagens diferentes.
The Boys tenta mostrar como a diversidade pode ser usada como produto de marketing, sem realmente se importar com o conteúdo — o que é uma crítica direta a muitas empresas reais.
Já Invencível apresenta personagens de diferentes etnias, orientações sexuais e classes sociais, mas de forma mais orgânica, como parte do mundo real.
Mas atenção: ambas também foram criticadas por algumas representações superficiais ou estereotipadas, o que abre margem para novos debates.
Influência cultural e o novo paradigma dos super-heróis
Estamos entrando numa nova era da cultura pop. A era dos heróis imperfeitos. E essas duas séries são pioneiras nisso.
A influência delas já pode ser sentida em outras produções que estão tentando se afastar da fórmula Marvel, apostando em roteiros mais ousados e sombrios.
Isso mostra que o público está maduro. Quer ver histórias mais reais, mais humanas – ainda que envoltas em capas e superpoderes.
E o que o futuro reserva?
Ambas as séries já têm novas temporadas confirmadas. E os fãs estão ansiosos.
- The Boys, na 4ª temporada, promete ainda mais conflito político, guerra ideológica e personagens novos.
- Invencível, cuja 2ª temporada já chocou com reviravoltas absurdas, deve mergulhar ainda mais no conflito interplanetário e no dilema de Mark.
É uma boa hora para perguntar: até onde essas histórias vão nos levar?
Conclusão: quando o herói é o próprio vilão
No fim das contas, talvez a pergunta não seja “qual série é melhor?”, mas sim: por que essas histórias nos atraem tanto?
Talvez porque elas sejam um espelho. Um espelho que mostra que o mundo não é feito de mocinhos e bandidos — mas de zonas cinzentas, decisões difíceis e consequências pesadas.
Se você ainda não assistiu nenhuma das duas, prepare-se. Não são séries de “pipoca”. Elas vão te fazer pensar. E, com sorte, vão te fazer questionar quem são os verdadeiros heróis do nosso mundo.
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